A IGREJA DA MISERICÓRDIA
A construção desta igreja foi iniciada na década de sessenta do Séc. XVII quando era provedor Rodrigo Homem de Quadros e sofreu reformas profundas durante a segunda metade do Séc. XVII. Terá sucedido à edificação primitiva, existente na margem direita do rio Anços, perto do castelo, em sítio conhecido por Palmeira. Esta Igreja é descrita pelos especialistas como um edifício de “Fachada austera, com portal do séc. XVII e janela do séc. XVIII. O primeiro, de vão rectangular e enquadramento de duas colunas dóricas sobre pedestais rematadas por entablamento; a janela, rasgada, de cabeceira levantada e com cornija.
Na empena, o escudo nacional setecentista. Precede-a um pátio lajeado, resguardado por grades simples. ”O interior da igreja, com uma única nave ampla, tem ao fundo os três arcos dos retábulos (nichos) num só plano, levantando-se acima dum patamar de três degraus corridos. No lado do evangelho rasga-se a tribuna, formada por quatro vãos, com três colunas, e duas meias colunas (adossadas à parede) suportando entablamento. Nas obras de remodelação realizadas no séc. XVIII, acrescentaram à tribuna uma varanda saliente de madeira. O tecto, liso, em asa de cesto, data da reforma setecentista (segunda metade do século) ... O púlpito pertence ao séc. XVII, de coluna e bacia de pedra, ao que foi acrescentado no séc. XVIII, um varandim de balaústres.”
ARTE SACRA
Do espólio de arte sacra da Igreja da Misericórdia merecem especial referência: Tecto, pintado, da segunda metade do séc. XVII, liso, em arco de asa de cesto; é de madeira e “está ornado por pintura decorativa representando perspectivas arquitectónicas, que conferem um efeito ilusionista e tridimensional à pintura”. Recentemente restaurado, apresenta sinais de sucessivas retocagens e acusa vestígios da degradação a que esteve sujeito em épocas passadas.
Telas (dezoito), que se presumem da autoria de pintores que não atingiram celebridade. Contudo, pode afirmar-se que são, na sua maioria, exemplares do Séc. XVII/XVIII; o seu estado de conservação e os efeitos de retocagens antigas, não proporcionam um estudo fácil. A mais expressiva das telas tem cerca de quatro metros por um metro e meio, é uma pintura com pormenores curiosos: um relatório elaborado pelo IPPAR (Viseu, 2000) identifica-a como uma “Última Ceia” e nele se realça o valor artístico da obra.
CAPELA DA QUINTA DE BAIXO
Faz parte do legado do benemérito João Santiago Matoso à Misericórdia de Soure, mas encontra-se ainda, tal como o resto do legado, sujeito a regime de usufruto. Situada a poucos quilómetros de Soure, é um pequeno templo de planta rectangular de invocação a N.ª S.ª da Conceição e nele se destaca, apesar de muito corroído, o belo portal, cujo “estilo aponta para a segunda metade do séc. XVI”; de vão em arco polilobado, profusamente decorado com motivos naturalistas de tipo manuelino e de aresta chanfrada; este arco é cercado por um outro, equivalente, feito num rebaixo de pedra e que termina nos finos colunelos dos pés direitos.
O brasão dos antigos proprietários, a família Homem de Quadros, encontra-se na chave da verga. “... Nela encontramos uma imagem do séc. XVI – A Virgem com o Menino - bela escultura renascentista, de tranquila beleza, típica do estilo da oficina coimbrã de João de Ruão. De serena e delicada expressão, a jovem senhora sustenta, no braço esquerdo, o Menino que oferece um cacho de uvas à pomba que está no braço direito da vigem.
O ligeiro movimento da coluna, tão típico das figuras de João de Ruão, confere a esta peça uma tranquila beleza. ...” Desconhece-se o paradeiro actual da referida imagem. Do pequeno retábulo, finamente trabalhado em pedra, policromado, de duas colunas, datando do séc. XVIII e das duas sepulturas com lajes de pedra gravadas em baixo relevo, há notícias de actos de vandalismo e violações.